Exatos dez anos atrás chegava aos cinemas brasileiros “Cidade de Deus”, o melhor filme que já fizemos. Por fizemos, entenda "nós brasileiros", enquanto contexto cultural, já que a maioria de nós não colocou os pés no set de filmagem. Mas é mais justo ter orgulho pelo feito de Fernando Meirelles e Kátia Lund, que pela Seleção Brasileira de futebol.
Os acertos do filme começam pela escolha do tema: adaptar livremente o livro semi-autobiográfico de Paulo Lins, com roteiro de Braulio Mantovani, na época uma promessa (hoje seus créditos envolvem “Tropa de Elite” e “Linha de Passe”, para ficar nos mais notórios). Depois, a escolha de atores não profissionais, moradores de comunidades cariocas, que seriam preparados por Kátia, jogando alguns poucos nomes famosos, como Matheus Nachtergaele e uma certa sobrinha de Sônia Braga chamada Alice, para papéis secundários. Fechando toda a confluência de fatores positivos, fica a fotografia e a direção de arte, coordenados por César Charlone.
Tudo isso, aliado à edição ágil, narrativa elegante e um ou outro efeito visual bem trabalhado (a cena da câmera girando em torno de Buscapé, personagem de Alexandre Rodriguez, no começo do filme, levando ao flashback, já está nos anais da história do cinema), surpreenderam todo o Brasil e, depois, o mundo. Até hoje é injusto, se você parar para pensar, que “Quem Quer Ser Um Milionário?” tenha ganhado um Oscar de Melhor Filme, e “Cidade de Deus” não. Afinal, o "nosso" é influência direta para o "deles".
E, na verdade, quem precisa de Oscar se ganhou o BAFTA de Melhor Edição. Ou o British Independent Film Awards de Melhor Filme Estrangeiro. Fora ter sido o grande vencedor do Festival de Havana (grande polo cinematográfico, não se engane), Grande Prêmio de Cinema Brasileiro, APCA, Festival de Cartagena e o prêmio dos críticos de Nova York. E mesmo o Oscar, cujos velhinhos não tiveram estômago para indicar como Melhor Filme Estrangeiro em 2003, resolveram, ao menos, indicar “Cidade de Deus” em quatro categorias: Melhor Direção; Roteiro Adaptado; Fotografia e Edição. Justamente quatro dos pontos mais altos do filme.
Além do fato de “Cidade de Deus” ter sido o primeiro grande filme brasileiro a entrar para o imaginário popular nacional. Quantas vezes você não ouviu por aí, ou com alguém falando em tom jocoso, ou em alguma rede social perdida por aí, que “Dadinho é o car****, meu nome agora é Zé Pequeno!”? Esse feito, só seria repetido cinco anos depois com “Tropa de Elite”, mas, muito provavelmente, porque “Cidade de Deus” já tinha pavimentado o caminho.
Por Luiz Gustavo Vilela
Veja o trailer para lembrar de alguns momentos:
Por Luiz Gustavo Vilela